I - Sonetos que não são




Sonetos que não são -I

Aflição de ser eu e não ser outra
Aflição de não ser, amor, aquela
Que muitas filhas te deu, casou donzela
E à noite se prepara e se adivinha
Objeto de amor, atento e bela

Aflição de não ser a grande ilha
Que te retém e não te desespera
(A noite como fera se avizinha)
Aflição de ser água em meio à terra
E ter a face conturbada e móvel

E a um só tempo múltipla e imóvel
Não saber se se ausenta ou se te espera
Aflição de te amar, se te comove.
E sendo água, amor, querer ser terra.

Hilda Hilst

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